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  • Foto do escritorDiocese de Cruz das Almas

Exortação do Bispo aos seminaristas da Diocese de Cruz das Almas por ocasião do início do ano letivo


Para a glória de Deus e para o bem da Igreja de Cruz das Almas, entram para o seminário diocesano, neste ano de 2020, quatro jovens. Eu não poderia deixar passar a oportunidade de encorajá-los à perseverança e fazer as devidas recomendações, exortando-os a se firmarem no itinerário rumo ao sacerdócio segundo a vontade de Deus.


Caros jovens, quando eu era seminarista, dois textos do Evangelho de Mateus nortearam minha trajetória formativa. O primeiro, Mt 7, 18 (a árvore boa que não pode produzir frutos maus) e o segundo, Mt 13, 24-30 (a parábola sobre o trigo e o joio). Ambos remetem à semântica do substantivo “seminário” (canteiro onde se semeiam vegetais que depois serão transplantados). Desde o início da minha caminhada vocacional, eu ardia de desejo de ser uma árvore boa, ou seja, ter um coração bom, uma alma inflamada pela caridade e sonhava galgar a santidade, por isso mesmo, apesar das inúmeras limitações inerentes à condição humana, eu me esforçava para praticar obras agradáveis a Deus e me permitia ser modelado pelo Espírito Santo, pois eu tinha consciência dos oito anos formativos que eu deveria enfrentar e que deles dependeria, futuramente, toda vida ministerial confiada a mim.


Entrei para o seminário em 1982, quando eu tinha dezoito anos e, à medida em que o tempo ia passando, os dois textos extraídos do Evangelho de Mateus foram como companheiros de jornada na trajetória formativa. Agiam em mim como bússola, indicando-me o caminho contrário à natureza humana, desvirtuosa, cheia de altos e baixos que, com o passar dos anos, teimava em convencer-me a me esquecer do propósito inicial à santidade.


Infelizmente, quando jovens rapazes entram no seminário, deparam-se com o joio semeado em meio ao trigal de Deus (isto acontece para que o Evangelho seja cumprido). Assim, é inevitável encontrar, em alguns candidatos, comportamentos estranhos ao ideal cristão, distantes da vocação à santidade. Isso pode, desastrosamente, influenciar os recém-chegados. É comum depararmo-nos com jovens que cultivam preguiça; que vivem num caminho avesso à verdade; outros, inclinados à concupiscência, aqueles que pouco rendem nos estudos por puro desinteresse, desperdiçando o dinheiro do povo de Deus que é investido na formação dos futuros padres; existem os limitados na vida de oração e que cumprem apenas os horários estabelecidos pela formação; também estão por lá os propícios a driblar a direção espiritual, pois abrir o coração e mostrar o estado da alma ao diretor espiritual incomoda bastante. Além de ter de contar com a vivência comunitária, que, em determinado tempo, torna-se um peso, principalmente no final do semestre com o estresse das provas ou no último ano, quando começa a aparecer o cansaço da jornada percorrida, ainda há o peso da obediência às leis do seminário e a disciplina aplicada pelos formadores.


Não quero desanimá-los à caminhada, tampouco dissuadi-los da vocação, ao contrário, meu interesse é esclarecer, alertar e distinguir o real do ideal, para que nenhum dos nossos, mais tarde, não se sinta enganado e culpe o Bispo por omissão e falta de alerta.

Por outro lado, apesar de tantos desafios, é bom contemplar jovens, ano após ano, perseverando no ideal do sacerdócio por amor a Jesus e ao Reino de Deus, impelidos pelo desejo de doar a vida no intuito de amar e servir. Esses exemplos, graças a Deus, são a maioria nos seminários. Eu, particularmente, nunca duvidei da minha vocação e nunca pensei em desistir de chegar ao ministério sacerdotal, pelo contrário, numa luta interior entre o “homem velho” e o “homem novo”, buscava superar todos os entraves impostos pelo meu humano e procurava me afastar de todos os empecilhos exteriores que podiam causar ameaça à minha opção de estado de vida. Também, eu não me permitia aproximar de influências negativas e maus exemplos. Com o tempo, tive de aprender a fazer minha cerca de proteção, sem exclusões e nem me excluir do convívio comunitário. Eu tinha consciência de que o correto era respeitar cada irmão de comunidade e me colocar sempre a serviço de todos, não de alguns, tampouco, exclusivamente de alguém.


Encontrei o melhor método de superação de mim mesmo para prosseguir com êxito em minha longa jornada: rendendo-me sem reservas à prática do Evangelho. Tomei uma decisão radical já no primeiro ano de seminário: “Palavra viva eu quero ser”! A escolha teria que ser minha, tudo dependeria de mim e não dos meus formadores e nem do meu diretor espiritual. Aliás, eu acredito muito no seminarista que auto se forma, pois o Seminário contribui dando pistas de formação, porém, o sucesso ou o fracasso do itinerário formativo fica por conta do formando.


Voltando aos textos motivadores de minha caminhada no seminário e que foram, para mim, como “Palavra de Vida” (a árvore boa que gera bons frutos e a parábola do trigo e do joio), posso dizer, que ambos exigiam, a cada ano no seminário e principalmente na reta final do tempo de formação, que eu fosse enérgico comigo mesmo, impelindo-me a me comportar coerentemente em relação a minha opção de vida. Diante do longo trajeto, existiam duas vias a escolher: Ser uma árvore bem regada e bem adubada, a qual, no futuro, produziria bons frutos e ser bom trigo que cresceria para a colheita ou ir embora do seminário por não aderir a que a Igreja me propusera como via para a recepção do Sacramento da Ordem. Uma terceira opção eu não me permitiria jamais: transformar-me em espinho. O espinho tem a função de furar e desde novo mostra a ponta. Teria eu coragem de me tornar sacerdote para furar as mãos de Jesus? Teria eu coragem de ser padre para arranhar a imagem da Igreja? Minha consciência não me permitiria.


Com zelo de Bispo, pastor e pai espiritual, exorto aos seminaristas que se encontram a um certo tempo na caminhada a fazerem um profundo exame de consciência em relação ao trajeto de formação percorrido. Aos que irão ingressar este ano, peço que cheguem ao seminário com um espírito de boa vontade e de coragem para aderirem ao projeto de Cristo e da Igreja em relação ao ideal sacerdotal.


Que o Senhor os abençoe e que a Virgem Mãe do Bom Sucesso interceda por todos.


+ Antonio Tourinho Neto.

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