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  • Foto do escritorDiocese de Cruz das Almas

CARTA PASTORAL EM TEMPO DE PANDEMIA


O Amor Vence Tudo!



A Diocese de Cruz das Almas, presbíteros, diáconos, membros da vida consagrada, seminaristas, agentes de pastoral, Conselho de leigos, membros das Irmandades, todos os batizados e pessoas de boa vontade e a quem interessar esta carta neste tempo de pandemia, paz, saúde e bênçãos de Deus.


“Quem poderá nos separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição. A fome, a nudez, o perigo ou a espada?

... Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou.” (Rm 8, 35. 37).


1. Saudação inicial.


Essa passagem da Epístola de São Paulo aos Romanos é o fundamento do meu lema episcopal, “O Amor Vence Tudo.” Com os olhos e o coração fixos nessa Palavra, eu me dirijo a todos os diocesanos neste tempo prolongado de pandemia do COVID – 19 e desejo saudá-los e encorajá-los através desta carta pastoral, na certeza da fé de que a vitória de Jesus Cristo é a nossa vitória (Jo 16,33). Nós, cristãos, cremos, indubitavelmente, que “o amor é mais forte que a morte” (Cântico dos Cânticos 8,38) e em vez de nos lamentarmos ou nos impacientarmos com a situação de impotência diante deste vírus violento, devemos permanecer firmes na esperança.


2. O mundo crucificado pela pandemia.


É fato que, atualmente, o Brasil e o mundo experimentam uma crucifixão devido ao COVID-19. Assim, independentemente da nação, raça, gênero, classe social, idade, poder econômico, todos estamos juntos na mesma realidade. Diante do ataque de um ser invisível, nós, seres humanos, fomos nivelados ao estado de vulnerabilidade e o pior é que travamos uma luta desigual, vez que o inimigo não mostra cor, cheiro, formato e pode estar em toda parte, inclusive nas palmas das mãos daqueles de quem tanto amamos. Em consequência disso, somos obrigados ao isolamento social. O mundo não estava preparado para tal combate e o resultado desastroso aponta, até pouco tempo, uma marca de 10 milhões de infectados no planeta e o número de mortos passa de 500 mil. Em relação a situação do Recôncavo Baiano, infelizmente, é constatado que o número de casos confirmados começa a crescer em algumas cidades da nossa Diocese.


Fico a me questionar diante do número de óbitos já ocorridos no Brasil (mais de sessenta mil confirmados pelo portal do Ministério da Saúde). Será que o Estado (em geral) errou nas medidas preventivas e curativas iniciais agindo tardiamente? Há possibilidade de um diagnóstico precoce seguido de um tratamento mais efetivo no início da infecção e este tem sido negligenciado ou negado propositalmente à população? Será que os medicamentos “Hidroxicloroquina”; “Ivermectina”; “Azitromicina”; “Zinco” e “Vitamina D” seriam, realmente, possíveis soluções e por interesses ideológicos partidários foram e continuam sendo negados? E o escândalo das compras de respiradores superfaturados? São questionamentos que pairam no ar e a voz do profetismo em favor da vida teima em não se silenciar.


Caso seja comprovado que os cadáveres das vítimas do Coronavírus serviram de palanque político partidário e ideológico para muitos se promoverem, a pandemia aqui no Brasil deveria receber um outro nome, “carnificina”. Resta saber se, em um país no qual a impunidade é regra e não exceção, os poderosos negligentes, omissos e interesseiros serão punidos com justa pena.


3. À luz da Fé.


Nós, cristãos, fitamos com olhar de fé e de esperança para as situações que o mundo vê com perplexidade, medo e com sentimento de derrota. Diante de tanto sofrimento físico e emocional; mortes precoces e unidades hospitalares sobrecarregadas; iminente perigo do colapso da economia e índice alto de desemprego; crise política e tantas outras más notícias que ouvimos todos os dias como consequência do Coronavírus, deixemo-nos ser guiados pela fé e pela esperança e associemos tudo à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na Cruz, diante da dor suprema, o Filho grita: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27,46). Nesse grito, Deus abre um acesso privilegiado e intenso ao seu próprio mistério de amor, no qual qualquer sentimento de fracasso e todo sofrimento humano adquire sentido. Para a espiritualidade cristã, a dor humana, unida ao supremo sofrimento de Jesus Crucificado, torna-se como uma espécie de “alquimia”, ou seja, a dor é transformada em amor, pois o abandono de Jesus na Cruz tornou-se para sempre o remédio (antídoto) contra todos os males físicos e morais. Em Jesus Crucificado-Ressuscitado, encontramos a resposta para toda dor e todo sofrimento transformados em amor.


Quando Jesus morreu, aos pés da cruz estava um centurião romano. Aquele homem, chefe dos demais soldados, era um pagão e, embora não fosse membro do povo de Israel, enxergou o divino e afirmou: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus!” (Mt 27, 54). Muitos questionam: “Como se encontrará a humanidade após a pandemia?” “Diante de tantas dores causadas pelo Coronavírus, o que se espera após este tempo sombrio?” Com o mesmo olhar do centurião e fé no Filho de Deus, Crucificado – Ressuscitado, nós, cristãos, esperamos uma humanidade fortalecida pela dor; vencedora sobre a morte; mais solidária; mais fraterna; em busca da verdade e da justiça para todos e mais voltada para Deus.


4. A Diocese firme na Caridade.


Nossa Diocese presta solidariedade a todos que se encontram sofridos com a pandemia. Estamos atentos aos mais pobres e excluídos que padecem do básico para a sobrevivência. De todo o coração, agradeço aos fiéis católicos que generosamente têm ouvido a solicitação dos párocos em relação as doações de alimentos, roupas, cobertores, máscaras e outras tantas necessidades urgentes. A partilha solidária faz com que a caridade cristã não seja negligenciada num momento tão crítico. Exorto as paróquias a continuarem atentas ao sofrimento dos que passam privações e permanecerem mobilizando os fiéis a socorrerem os que estão passando qualquer tipo de aflição.


Dirijo meu agradecimento aos agentes da Pastoral da Comunicação que vêm realizando importante trabalho de evangelização através da mídia, principalmente as transmissões das Santas Missas.


Um agradecimento especial a todos os profissionais da saúde pela coragem demonstrada em prestar serviço à população. São muitos os agentes que trabalham nessa área e se doam de forma especial por causa da fé que professam em Jesus Cristo e, em nome do amor cristão, se lançam diante do perigo indo além do medo de se contaminarem.


Agradeço também aos sacerdotes e diáconos da Diocese mobilizados em dar assistência espiritual e material aos demais fiéis num grande testemunho de solidariedade e acolhimento. Dentre tantos que os nossos ministros ordenados têm socorrido pelas obras de caridade estão as famílias dos infectados; os doentes; a encomendação dos corpos; os trabalhadores desempregados; as famílias desfavorecidas; os idosos sozinhos que não conseguem sair para fazer compras. São esses os “prediletos de Deus” e que a crise não pode fazer cair no nosso esquecimento.


5. Quanto às celebrações das missas e dos demais sacramentos.



Foram lançadas por mim duas notas de recomendações sobre esse assunto. Uma em relação a celebração da Missa e outra sobre a exposição e adoração ao Santíssimo Sacramento. As mesmas continuam vigentes e confio no discernimento dos sacerdotes que, sem violar as instruções das autoridades públicas, podem e devem decidir sobre a sua missão de santificar o Povo de Deus em particular circunstância. As celebrações dos diversos sacramentos não estão proibidas na Diocese, pelo contrário, o que não é permitido é promover aglomerações, pois, infelizmente, não podemos ainda falar em flexibilização já que em alguns municípios o número de infectados tem crescido. Uma Confissão pode ser ministrada e até um Batismo de criança e um Matrimônio podem ser celebrados, contanto que sejam sem aglomerações e festas. O que a Diocese pede e insiste é que cada pároco aja de acordo com a realidade vigente daquele município. Os que podem menos, celebrem com o número reduzido de fiéis presentes no templo, no máximo quinze, trinta ou cinquenta pessoas e rigorosamente afastadas umas das outras, como é recomendado pelas autoridades sanitárias. Os que podem mais, celebrem com trinta por cento da capacidade de fiéis no templo, não mais do que isso, levando em consideração as mesmas medidas de proteção. Os que se encontram em situação de extremo perigo, celebrem em privado ou com o número mínimo de fiéis.


É terminantemente proibido o não uso de máscaras nos templos; como também faz-se necessária a disponibilização do álcool em gel nas Igrejas e a higienização do espaço sagrado entre as celebrações. É preciso orientar os que frequentam as missas de como se locomoverem no templo, principalmente na hora da recepção à Eucaristia e na chegada e na saída para não se aproximarem umas das outras. Todas as Dioceses no Brasil que estão flexibilizando as celebrações sacramentais têm agido desta forma. O bom é que tudo isso vai passar e voltaremos ao normal como antes. Porém, no exato momento, são necessárias paciência, tolerância e disciplina por parte de todos.


6. Um apelo à situação econômica da Diocese e das paróquias.


Com a pandemia, os fiéis se afastaram do templo, das missas dominicais, muitos estão reclusos dentro das suas casas há meses. Graças a Deus, os fiéis leigos são extremamente sensíveis e generosos para com a manutenção da Igreja onde professam a sua fé. Agradeço a todos os dizimistas que estão firmes na colaboração do dízimo neste tempo desafiador. Apesar da fidelidade de alguns, as necessidades reclamam com a deficiente situação econômica que o País está atravessando. As colaborações diminuíram e as despesas são as mesmas e em algumas paróquias aumentaram. Todos os meses, independentemente da colaboração ou não dos fiéis, a Diocese e as paróquias necessitam cumprir com seus numerosos compromissos em relação às dimensões missionária – evangelizadora; religiosa; administrativa e caritativa.


Faz-se necessário reinventar, em tempos de pandemia, a devolução do dízimo nas paróquias. Aconselho os párocos a reorganizarem a arrecadação mensal para facilitar os dizimistas que desejarem estar em dia com seu compromisso perante Deus e a sua comunidade; como também incentivem a Pastoral do Dízimo a desempenhar um trabalho efetivo em favor desta causa.


7. Os encontros via Meios de Comunicação Social.


Negar a situação de perigo e responder com descaso é sobretudo arriscado, por esse motivo, em nossa Diocese, quaisquer reuniões presenciais de cunho pastoral continuam suspensas por tempo indeterminado, exceto em circunstâncias de extrema necessidade. Porém, a alternativa para que as nossas ações evangelizadoras e pastorais não fiquem desassistidas é encontrada nas redes sociais. As paróquias precisam abraçar com urgência o desafio de se adaptarem a essa nova forma de promover encontros entre os fiéis através dos Meios de Comunicação. Não só a transmissão da celebração Eucarística, que é muito importante, mas também a catequese para as crianças; o encontro da Crisma para os jovens e adolescentes; um tema de espiritualidade oferecido pelo sacerdote para os casais; os círculos Bíblicos etc.


Essa pandemia trouxe a necessidade da Igreja se modernizar, usar da criatividade para que através dos meios sociais, via internet, possa chegar diretamente ao coração das famílias. Mudamos a rotina dentro das nossas paróquias, mas a paróquia deve se tornar presença viva dentro de cada família, trazendo de volta o aspecto antigo da verdadeira igreja doméstica. Com a pandemia, cada paróquia é convidada a achar uma dinâmica que possa chegar até o coração de seus fiéis e mostrar que estamos juntos, ainda que separados fisicamente. A pandemia nos coloca diante desse desafio e adaptação, o que torna necessário encontrar novas maneiras de pastorear o rebanho de Cristo.


8. Conclusão.


Peço encarecidamente aos senhores párocos que colaborem para que esta Carta Pastoral chegue ao conhecimento de um maior número de fiéis.


Recomendo, insistentemente, que todos orem pelos enfermos infectados; também para que os cientistas agilizem na criação da vacina contra este vírus; orem pelos profissionais da saúde, que correm grande risco de infecção; por aqueles que já perderam ou estão receosos de perder o emprego e pelos trabalhadores informais; bem como por aqueles que estão reclusos dentro de casa devido à idade avançada ou por serem, devido outros motivos, componentes do grupo de risco.


Apesar do momento dramático que estamos vivenciando, temos escutado muitos testemunhos de amor e solidariedade ao próximo. A dor, na história da humanidade, sempre foi canal de beneficência, comiseração, benevolência, complacência... Embora o nosso Deus não se compraz com o sofrimento dos seus filhos, Ele permite a dor para que proveitos benéficos bem maiores sejam alcançados com tal situação.


Há uma certeza que nos traz uma profunda alegria: Temos uma intercessora junto ao Senhor Jesus sob o título de “Nossa Senhora do Bom Sucesso!” Confiemos à sua proteção neste tempo difícil de ser vivido.


Finalizo invocando a bênção do Deus todo Poderoso sobre as famílias diocesanas.

Cruz das Almas, 07 de julho de 2020


+ Antonio Tourinho Neto.

Bispo Diocesano de Cruz das Almas-Ba.

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