O Bispo de Juazeiro (BA), dom Carlos Alberto Breis Pereira, divulgou mensagem na última quarta-feira, 30, sobre os rompimentos de barragens de rejeitos de mineração de Mariana (MG) e Brumadinho (MG). No texto, dom Beto convocou a todos para que exijam das autoridades competentes a preservação de rios e córregos “ainda não envenenados pelo fel dos criminosos”.
Dom Beto é enfático ao tratar como crimes os acontecidos em Mariana e Brumadinho e denuncia a mineradora Vale, “para a qual o lucro e os sucessos nas cotações importam incomparavelmente mais que vidas humanas e de tantos outros elementos da Criação, nossa Casa Comum”.
Tendo a sua diocese localizada na “bacia hidrográfica do Rio da Integração Nacional”, o rio São Francisco, dom Carlos Alberto manifestou em seu texto apreensão com os “riscos reais de que o veneno que escorre com a enorme quantidade de lama, substâncias e sedimentos diversos em densidade e em grau de contaminação, chegue às águas do Rio São Francisco, nosso Velho Chico”.
“Ele é nosso irmão e o pai das populações por onde suas generosas águas fluem até desaguarem na imensidade do Atlântico (após percorrerem 2.700 km de sua extensão). Estudos realizados comprovam que tal veneno nem sempre terá a visibilidade da lama que destrói e provoca mortes imediatas, comporta grau nocivo e letal. Podemos imaginar, apreensivos, o que pode ocorrer se medidas efetivas e imediatas não forem tomadas no sentido de que esse material contaminante não chegue à bacia hidrográfica do Rio da Integração Nacional”, afirmou dom Beto.
O chamado do bispo de Juazeiro é de convocação para exigir das autoridades que sejam tomadas medidas “cabíveis e urgentes no sentido de garantir a preservação de rios e córregos ainda não envenenados pelo fel dos criminosos movidos pelo afã do dinheiro ‘fácil’”.
De acordo com o Serviço Geológico Brasileiro, na quinta-feira, a lama de rejeitos já percorreu cerca de 100 quilômetros no curso do rio Paraopeba. O órgão reforça que os sedimentos não devem chegar à barragem de Três Marias e consequentemente no Rio São Francisco. Mesmo assim, há a preocupação dos metais pesados comprometerem a qualidade da água e a biodiversidade da bacia do Velho Chico, uma vez que estes materiais seguirão o fluxo da água.
No fim da mensagem, o bispo sugere um pedido a Deus para que “a lama que corre e escorre, represas de ganância e cobiça, abra nossos olhos das brumas que ofuscam a sensibilidade moral e a responsabilidade pelo cuidado com a Vida”. E continua: “Que não represemos, com olhos abertos pelo toque recriador daquEle que com uma porção de lama abriu os olhos do cego, nossa compaixão indignada e a capacidade de repensarmos este mundo e nossa convivência”.
O regional Nordeste 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no qual estão reunidas as dioceses da Bahia e do Sergipe, preparou a “Cartilha Ecológica do Rio São Francisco”, um subsídio pelo qual a Igreja convida a população a um esclarecimento e uma reflexão que possam surtir efeitos práticos pela restauração da bacia do Velho Chico.
A Cartilha Ecológica pretende: descrever o Rio São Francisco e seus afluentes de maneira simples e didática, com toda a sua riqueza para a vida da população ribeirinha; apresentar as principais causas que estão levando o Rio a morrer; propor ações concretas que devem ser adotadas urgentemente para reverter o processo de morte instaurado nos rios da bacia; exortar a todos os agentes responsáveis nos vários segmentos sociais, para que cada um assuma sua parcela de responsabilidade na defesa da vida do rio e de seu povo.
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