O 58º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado neste 4º Domingo da Páscoa, Domingo do Bom Pastor, apresenta um tema ligado a São José, recordando o Ano especial dedicado a ele, por ocasião dos 150 anos da sua declaração como Padroeiro da Igreja universal. O Papa Francisco, em sua mensagem, com o título, “São José: o sonho da vocação”, recorda-nos que São José, de fato, é uma figura extraordinária e, ao mesmo tempo, bem próxima a nós, seres humanos.
Para este 58º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o padre Juarez Albino Destro, assessor da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), escreveu sobre a mensagem do Papa para a ocasião.
Confira, abaixo, o texto:
“(…) Ele não era famoso e nem se fazia notar. Contudo, através de sua vida normal, realizou algo de extraordinário aos olhos de Deus: tinha um coração de pai, capaz de dar e gerar vida no dia a dia. “E é isto que as vocações tendem a fazer: gerar e regenerar vidas todos os dias”, afirma o papa. A mensagem também faz recordar um filme vocacional produzido há alguns anos pelo Instituto de Pastoral Vocacional (IPV), em parceria com a Comep-Paulinas, que ganhou o prêmio Margarida de Prata, da CNBB, em 2016: “Despertar para sonhar: o chamado que Deus faz a cada um”. No filme, que aborda o processo vocacional de três jovens, fica evidente a necessidade de “despertar” das ilusões ou do simples “dormir” ou “comodismo”. Sonhar é preciso, escutar a voz de Deus que chama e envia em missão, para servir com alegria. Na mensagem do papa Francisco tudo isso é colocado, e muito mais. Somos chamados a sonhar como São José, colocarmo-nos sempre a serviço como fez São José, sermos fieis à nossa vocação a exemplo de São José. Assim, certamente viveremos com maior alegria! Sonho, serviço e fidelidade, três palavras-chave para a nossa vocação… “O Senhor deseja moldar corações de pais, corações de mães: corações abertos, capazes de grandes ímpetos, generosos na doação, compassivos para consolar as angústias e firmes para fortalecer as esperanças. Exatamente disto têm necessidade o sacerdócio e a vida consagrada, particularmente nos dias de hoje, nestes tempos marcados por fragilidades e tribulações devidas também à pandemia que tem suscitado incertezas e medos sobre o futuro e o próprio sentido da vida. São José vem em nossa ajuda com sua mansidão. E pode, com o seu forte testemunho, guiar-nos no caminho”, afirma o papa. Vejamos as três palavras-chave e a reflexão de Francisco:
Sonho
Todos nós sonhamos em nos realizar na vida. E é justo nutrir grandes aspirações e expectativas, que objetivos passageiros como o sucesso, a riqueza e a diversão não conseguem satisfazer. Se pedíssemos às pessoas para traduzirem numa só palavra o sonho da sua vida, não seria difícil imaginar a resposta: «amor». É o amor que dá sentido à vida, porque revela o seu mistério. Somente temos a vida que damos. E a este propósito muito nos tem a dizer São José, pois, através dos sonhos que Deus lhe inspirou, fez da sua existência um dom.
Os Evangelhos falam de quatro sonhos (cf. Mt 1,20; 2,13.19.22). Apesar de serem chamados divinos, não eram fáceis de acolher. Depois de cada um dos sonhos, José teve de alterar os seus planos e entrar em jogo para executar os misteriosos projetos de Deus, sacrificando os próprios. Confiou plenamente. Podemos nos perguntar: «Era um sonho noturno para o seguir com tanta confiança?» Por mais atenção que se lhe pudesse prestar na antiguidade, valia sempre muito pouco quando comparado com a realidade concreta da vida. Todavia São José deixou-se guiar decididamente pelos sonhos. Por quê? Porque o seu coração estava orientado para Deus, estava já predisposto para Ele. Para o seu vigilante «ouvido interior» era suficiente um pequeno sinal para reconhecer a voz divina. O mesmo se passa com a nossa vocação: Deus não gosta de se revelar de forma espetacular, forçando a nossa liberdade. Transmite-nos os seus projetos com mansidão; não nos ofusca com visões esplendorosas, mas dirige-se delicadamente à nossa interioridade, entrando no nosso íntimo e falando-nos através dos nossos pensamentos e sentimentos. E assim nos propõe, como fez com São José, metas elevadas e surpreendentes.
Na realidade, os sonhos introduziram José em aventuras que nunca teria imaginado. O primeiro perturbou o seu noivado, mas tornou-o pai do Messias; o segundo fê-lo fugir para o Egito, mas salvou a vida da sua família. Depois do terceiro, que ordenava o regresso à pátria, vem o quarto que o levou a mudar os planos, fazendo-o seguir para Nazaré, onde precisamente Jesus havia de começar o anúncio do Reino de Deus. Por conseguinte, em todos estes transtornos, revelou-se vitoriosa a coragem de seguir a vontade de Deus. Assim acontece na vocação: o chamado divino impele sempre a sair, a dar-se, a ir mais além. Não há fé sem risco. Só abandonando-se confiadamente à graça, deixando de lado os próprios programas e comodidades, é que se diz verdadeiramente «sim» a Deus. E cada «sim» produz fruto, porque adere a um desígnio maior, do qual entrevemos apenas alguns detalhes, mas que o Artista divino conhece e desenvolve para fazer de cada vida uma obra-prima. Neste sentido, São José constitui um ícone exemplar do acolhimento dos projetos de Deus. Que ele ajude a todos, sobretudo aos jovens em discernimento, a realizar os sonhos que Deus tem para cada um; inspire a corajosa intrepidez de dizer «sim» ao Senhor, que sempre surpreende e nunca desilude!
Serviço
Dos Evangelhos resulta como São José viveu em tudo para os outros e nunca para si mesmo. O Povo santo de Deus chama-lhe castíssimo esposo, desvendando assim a sua capacidade de amar sem nada reservar para si próprio. Libertando o amor de qualquer posse, abriu-se realmente a um serviço ainda mais fecundo: o seu cuidado amoroso atravessou as gerações, a sua custódia solícita tornou-o patrono da Igreja. Ele que soube encarnar o sentido oblativo da vida, é também patrono da boa-morte. Contudo, o seu serviço e os seus sacrifícios só foram possíveis porque estavam sustentados por um amor maior: «Toda a verdadeira vocação nasce do dom de si mesmo, que é a maturação do simples sacrifício. Mesmo no sacerdócio e na vida consagrada requer-se este gênero de maturidade. Quando uma vocação matrimonial, celibatária ou virginal não chega à maturação do dom de si mesmo, detendo-se apenas na lógica do sacrifício, então, em vez de significar a beleza e a alegria do amor, corre o risco de exprimir infelicidade, tristeza e frustração» (Patris Corde, 7). O serviço, expressão concreta do dom de si mesmo, não foi para São José apenas um alto ideal, mas tornou-se regra da vida diária. Empenhou-se para encontrar e adaptar um alojamento onde Jesus pudesse nascer; prodigalizou-se para o defender da fúria de Herodes, apressando-se a organizar a viagem para o Egito; voltou rapidamente a Jerusalém à procura de Jesus que tinham perdido; sustentou a família trabalhando, mesmo em terra estrangeira. Em resumo, adaptou-se às várias circunstâncias com a atitude de quem não desanima se a vida não lhe corre como queria. Esteve sempre disponível, como quem vive para servir. Com este espírito, José empreendeu as numerosas viagens e muitas vezes imprevistas da vida: de Nazaré a Belém para o recenseamento, em seguida para Egito, depois para Nazaré e, anualmente, a Jerusalém, sempre pronto a enfrentar novas circunstâncias, sem se lamentar do que sucedia, mas disponível para dar uma mão a fim de reajustar as situações. Pode-se dizer que foi a mão estendida do Pai Celeste para o seu Filho na terra. Assim não pode deixar de ser modelo para todas as vocações, que a isto mesmo são chamadas: ser as mãos operosas do Pai em prol dos seus filhos e filhas.
São José, guardião de Jesus e da Igreja, é também o guardião das vocações. Da disponibilidade em servir deriva o seu cuidado em guardar: «Levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe» (Mt 2,14). Não perdeu tempo a cismar sobre o que estava errado, para não o subtrair a quem lhe estava confiado. Este cuidado atento e solícito é o sinal de uma vocação realizada. É o testemunho de uma vida tocada pelo amor de Deus. Que belo exemplo de vida cristã oferecemos quando não seguimos obstinadamente as nossas ambições, nem nos deixamos paralisar pelas nossas nostalgias, mas cuidamos de quanto nos confia o Senhor, por meio da Igreja! Então Deus derrama o seu Espírito, a sua criatividade sobre nós; e realiza maravilhas, como em José.
Fidelidade
Além do chamado de Deus – que realiza os nossos sonhos maiores – e da nossa resposta – que se concretiza no serviço pronto e no cuidado carinhoso –, há um terceiro aspecto que atravessa a vida de São José e a vocação cristã, cadenciando o seu dia a dia: a fidelidade. José é o «homem justo» (Mt 1,19) que, no trabalho silencioso de cada dia, persevera na adesão a Deus e aos seus desígnios. Num momento particularmente difícil, detém-se «a pensar» em tudo (cf. Mt 1,20). Medita, pondera: não se deixa dominar pela pressa, não cede à tentação de tomar decisões precipitadas, não segue o instinto, nem se cinge àquele instante. Tudo repassa com paciência. Sabe que a existência se constrói apenas sobre uma contínua adesão às grandes opções. Isto corresponde à laboriosidade calma e constante com que desempenhou a profissão humilde de carpinteiro (cf. Mt 13,55), pela qual inspirou, não as crônicas da época, mas a vida cotidiana de cada pai, cada trabalhador, cada cristão ao longo dos séculos. Porque a vocação, como a vida, só amadurece através da fidelidade de cada dia.
Como se alimenta esta fidelidade? À luz da fidelidade de Deus. As primeiras palavras recebidas em sonho por São José foram o convite a não ter medo, porque Deus é fiel às suas promessas: «José, filho de Davi, não temas» (Mt 1,20). Não temas: são estas as palavras que o Senhor dirige também a nós, quando, diante de incertezas, hesitações, dificuldades, incompreensões, sentimos como inadiável o desejo de lhe doar a vida e fazer a sua vontade. São as palavras que descobrimos quando, no processo vocacional, retornamos ao primeiro amor. São as palavras que, como um refrão, acompanham quem diz sim a Deus com a vida, como São José: na fidelidade de cada dia. E esta fidelidade é o segredo da alegria, diária e transparente, alegria que sente quem guarda o que conta: a proximidade fiel a Deus e ao próximo. Como seria belo se a mesma atmosfera simples e radiosa, sóbria e esperançosa, permeasse os nossos seminários, os nossos institutos religiosos, as nossas residências paroquiais!
Que São José, guardião das vocações, nos acompanhe com coração de pai!”
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